domingo, 11 de março de 2007

"Software livre reduz gastos do Ministério da Justiça"

"Graças à adopção de software livre (open source), o Ministério da Justiça pode vir a poupar até 5,5 milhões de euros anuais só em licenças, um valor que representa quase três quartos dos 7,5 milhões que paga actualmente a empresas de informática pelo uso dos seus produtos.
A redução de custos, contudo, só é possível depois de um processo de migração das aplicações e sistemas usados, tanto nos computadores dos funcionários como nos servidores que armazenam os dados das várias dependências do ministério. Este processo já está em curso, mas não tem prazos rígidos e implica gastos com formação e apoio técnico, explica o presidente dos Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça (ITIJ), Mário Valente.
O ministério começou no início do ano passado um projecto-piloto de adopção do OpenOffice, um pacote de aplicações gratuito e de código-fonte aberto concorrente do Microsoft Office. As primeiras experiências foram conduzidas com sucesso em alguns organismos pequenos, com 30 a 50 funcionários, bem como no gabinete do secretário de Estado, onde todos os computadores estão equipados com este conjunto de programas.
Se metade dos 30 mil computadores do ministério migrassem para OpenOffice, Mário Valente estima que conseguiria poupar três dos cinco milhões de euros anuais que paga à Microsoft por licenças de Office e Windows. O responsável considera que esta taxa de adopção da ferramenta gratuita é possível, mas sublinha que se trata um processo sem datas.
Já a adopção de Linux nos computadores dos funcionário não é considerada prioritária por Mário Valente, embora o ministério possua uma versão própria de Linux -o Linius - feito pela empresa portuguesa Caixa Mágica. Este sistema está a ser instalado nos computadores onde o Windows não é imprescindível, mas serve também "como uma ferramenta de evangelização", reconhece Mário Valente.
O objectivo é 'familiarizar as pessoas [funcionários sem conhecimentos técnicos] com o open source', dando-lhes algo com que possam experimentar, enquanto contam com o apoio técnico e a formação da empresa que concebeu o Linius - um tipo de serviços que seria mais difícil de obter se o ministério tivesse optado por uma distribuição de Linux já existente, mas sem representação nacional.
Até agora, no entanto, a adopção do Linius e do OpenOffice só acarretou gastos para o ministério. O sistema e o respectivo suporte técnico ficaram perto dos 200 mil euros, despesa que ainda não foi compensada: "De facto, ainda não houve impacto em termos de licenças Microsoft, até porque não poderíamos rescindir ou rever um contrato assinado em 2004 com a duração de três anos."

Gratuito não significa custo zero
Para o presidente do ITIJ, os computadores dos funcionários 'não são a área crítica'. A prioridade vai para os poderosos computadores que armazenam as grandes bases de dados do ministério, como as dos registos civil, predial ou notarial, por exemplo. Muitas destas já estão instaladas em sistemas Linux, o que permitiu, num caso, aumentar o desempenho da máquina e evitar a compra de um novo processador - que significaria uma despesa de um milhão de euros.
É neste campo, observa Mário Valente, que, 'a longo prazo', o ITIJ espera poupar mais 2,5 milhões de euros anuais; e é aqui que se podem fazer mudanças 'sem impacto notado pelo utilizador final, obviando assim custos de formação e adaptação.'
Estes custos são um dos problemas do software livre, garante o responsável pela área de plataformas da Microsoft Portugal, Marcos Santos: 'Os clientes olham para o custo de aquisição e não para o custo de adoptar soluções.' Frisando tratar-se de uma questão que deve ser analisada 'caso a caso', Santos explica que 'muitos desafios' (e gastos) estão à espera das entidades que optarem por esta via: falta de técnicos e de conhecimentos sobre as aplicações existentes, inexistência de um 'ecossistema de parceiros' que preste apoio e escassez de aplicações livres.
Mário Valente admite que os custos em serviços técnicos e formação no caso das aplicações livres podem até ultrapassar os custos totais da adopção de uma solução proprietária, mas defende que o conhecimento adquirido pela organização acaba por compensar.
De qualquer forma, reconhece que o open source não é solução para tudo: 'Não há uma posição radical. Temos tido casos que não é possível resolver com open source'. Um deles é o caso da gestão documental, uma área ainda 'incipiente' no ministério, ou das grandes bases de dados. Para Mário Valente, estas são áreas onde as alternativas livres não estão ainda 'maduras' nem à altura das opções proprietárias vendidas por empresas. Também nos tribunais, que dependem de uma aplicação que só funciona em Windows, o sistema da Microsoft será mantido. " (José Pedro Pereira - Público - Digital, 11/03/2007)

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